Como recomeçar?
Depois de uma tentativa frustrada de abandonar esse vício horroroso, me deparo com este blog e me lembro de todas as minhas intenções com ele: me ajudar a parar de fumar, incentivar e apoiar outras pessoas que também estão deixando o cigarro, transformar uma experiência difícil e traumática em algo mais leve e divertido.
Fracassei. Depois de alguns dias sem fumar, me traí e corri para a padaria mais próxima para comprar um maço de Free. Cheguei a pensar que nunca mais tentaria, que o cigarro não devia fazer tão mal assim, que se eu parasse ia ser completamente contraproducente, uma vez que estou cursando o primeiro ano de Letras e preciso de coisas que me ajudem a concentrar, e a abstinência certamente não é uma dessas coisas.
No entanto, me deparo com a realidade de que, se eu for esperar ter um momento na vida só para parar de fumar, eu não vou parar nunca. Então decidi que o momento é agora. Enquanto digito isso, meus pulmões parecem chorar de desespero por uma fumacinha tóxica e minha mente me diz "Só unzinho não vai fazer diferença."
Mas eu sei que é assim que ele age, o vício. Não são meus pulmões ou minha mente que estão dizendo isso. É o vício tentando me enganar, me convencer de que ele é uma coisa boa. E para aqueles que têm dúvidas sobre o cigarro fazer mal mesmo ou não, eu diria que toda e qualquer coisa que comprometa sua liberdade, sua vontade própria, qualquer coisa que venha podar suas asas não pode ser uma coisa boa.
Parar de fumar é como andar em uma corda bamba. Você precisa respirar fundo, focar no outro lado do trajeto, equilibrar-se, acreditar que pode chegar lá sem cair. E o grande segredo é nunca, jamais, em hipótese alguma, olhar para baixo. Porque há um abismo gigantesco de abstinência, medo e vício esperando para te tragar (com o perdão do trocadilho).
Depois de anos sendo escravo do cigarro, eu decidi que não quero mais isso. Não quero mais abraçar as pessoas de longe, quase fugindo, por causa do cheiro que eu sei que fica em mim. Não quero mais virar a cara para os lados quando for falar com alguém por causa do meu hálito de cinzeiro. Não quero mais chegar em casa depois de uma festa, ou então em uma sala de aula da faculdade, com aquele cheiro metálico curtido em minhas roupas. Não quero mais ficar me perguntando se aquela pessoa sentada ao meu lado na faculdade cobriu o rosto com a mão por causa do meu cheiro de cigarro. Não quero mais gastar 50 reais por semana com cigarro e não ter dinheiro para outras coisas mais bacanas, interessantes e saudáveis. Não quero mais alimentar uma máfia que mata milhares de pessoas por ano. Não quero mais colocar minha saúde em risco. Não quero mais ver meus pais chegando em casa todos os dias e reclamando do cheiro que eu deixo na casa, pela qual eles trabalham para manter todos os dias. Não quero mais me sujeitar ao ridículo de sair juntando moedinhas no meio da madrugada e sair de casa andando até o posto de gasolina às 3h da manhã segurando 60 moedas para comprar cigarro.
Enfim, os "não quero" são tantos que eu poderia ficar a tarde inteira aqui só digitando isso. Mas eu vou dizer o que eu quero, que é muito mais simples e conciso: eu quero ser livre. Quero poder escolher ficar com meus amigos, com meus familiares, quero optar por ficar dentro da sala de aula sem sair o tempo todo para fumar. Quero poder escolher qual vai ser meu perfume. Quero poder escolher qual gosto vai ter minha boca.
Quero minhas asas de volta.
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