segunda-feira, 15 de junho de 2015

Pressure! Dia #07



Ansiedade é uma palavra de 9 letras para "Boa tarde, vou querer três BigMacs com fritas e refrigerante. Ah, e um tiro na testa, por favor." Parece que todos os problemas do mundo resolveram dar um passeio usando suas costas como garupa, e agora você é responsável por resolver cada pepino que aparecer na sua frente.

Juntando tudo isso à abstinência, não há ser humano em sã consciência que consiga suportar. E é aí que a sua mente começa a te sabotar, sussurrando ótimos motivos para desistir de parar de fumar, interromper tudo o que você está fazendo e correr para a loja de conveniência mais próxima e comprar um maço. São argumentos práticos que fazem todo sentido: só um cigarro não vai fazer mal; você está passando por uma barra, não seja tão duro com você mesmo e dê um trago; você pode parar mais tarde, quando as coisas estiverem mais tranquilas: não tem por que se martirizar agora, com tudo isso que você já está passando.

Se você deixar sua mente argumentar, provavelmente não vai conseguir aguentar por muito tempo. Por exemplo, amanhã eu tenho uma prova supercomplicada na faculdade e uma apresentação musical para um auditório lotado. Minha mente quer ser camarada e me convencer de que pode me ajudar a passar por esses desafios e tornar tudo mais simples; para tanto, eu só preciso ir ali rapidinho e repetir as palavrinhas mágicas que ficaram gravadas nela por todos esses anos: "um-free-vermelho-maço".

Confesso que quase me deixei levar por isso. Pensando em todas as coisas com as quais terei de lidar amanhã, me imaginando em cima de um palco, diante de um microfone e de uma plateia consideravelmente grande, ou sentado em uma sala de aula encarando uma folha de papel que será decisiva para que o semestre que passou valha a pena, há dezenas de argumentos que me fariam desistir da jornada anti-tabaco na qual me coloquei há quase uma semana.

Eu poderia redigir uma tese de mestrado sobre os motivos pelos quais parar de fumar agora não é uma boa ideia, mas eu só preciso de uma constatação para desconstruir esse pensamento: sempre haverá problemas, sempre haverá ansiedade, sempre aparecerão desafios. Além disso, o cigarro não faria com que a prova fosse mais fácil, tampouco que a plateia fosse mais tolerante com a minha falta de talento (a apresentação é praticamente obrigatória e involuntária) e sequer melhoraria minha voz. Pensando bem, fumar provavelmente só pioraria as coisas: eu teria pressa para acabar logo a prova e poder fumar, eu me apresentaria fedendo e minha voz seria prejudicada com a fumaça.

Você pode usar o cigarro como muleta para te apoiar em momentos difíceis, mas a realidade é que ele não funciona assim. A nicotina pode amenizar ansiedades e depressões, ou exaltar momentos de relaxamento e prazer, mas mais da metade do mundo consegue sobreviver a desafios e curtir felicidades sem cigarro. Em muitos casos, o hábito de fumar pode, na verdade, piorar as coisas.

Então, quando a ansiedade vier fazer uma visitinha, receba-a bem. Não tente lutar contra ela a ponto de se desesperar mais ainda. Sua mente vai argumentar, mas é importante que você saiba conversar consigo mesmo em vez de ficar tentando calar uma voz que esteve aí dentro de você a vida inteira. Tenha bons argumentos para te apoiar. Faça uma lista dos motivos pelos quais você decidiu parar de fumar e deixe-a sempre por perto. Beba água, masque chiclete, coma frutas, leia alguma coisa, permita-se ser absorvido por algo que te interesse.

Ah, e antes que eu me esqueça: maneire no BigMac. E nada de tiro na testa!

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