quinta-feira, 11 de junho de 2015

Dias de luta, dias de glória - Dias #02 e #03

SEM FUMAR HÁ: 2 DIAS E 20 HORAS
DINHEIRO ECONOMIZADO: R$ 20,25
ABSTINÊNCIA: CONTROLADA


Um dos meus maiores medos ao parar de fumar era o de perder o prazer em eventos sociais. Até poucos dias atrás, Nico era um grande companheiro de festas, passeios e até mesmo reuniões pequenas em casas de amigos. Mesmo quando eu ia ao cinema, assim que o filme terminava, tinha que sair do shopping para fumar um cigarro. Parece que todas as atividades de lazer da minha vida estavam atreladas ao cigarro, ou melhor, que ele estava atrelado a elas, como os temperos exóticos de uma comida que pode ser boa sem eles, mas que não é a mesma coisa.

Ontem foi meu segundo dia sem fumar e uma festa junina aconteceu na faculdade. E quem resiste a festas juninas? Doces, música, cachorro quente, pessoas vestidas a caráter... Além de tudo, a entrada era gratuita, e como não tive muitas oportunidades de ir a festas de integração da faculdade este ano (na verdade, não fui em nenhuma), decidi ir a essa.

Pensei que não fosse ser forte o suficiente. Assim que pisei na faculdade, às oito da noite, a abstinência parecia estar mais alta do que a música, pulsando em minha cabeça como um coração em pleno ataque, bombeando irritação e impaciência pelas minhas veias e arrancando suspiros de agonia. Para ajudar, dezenas de pessoas fumavam ao meu redor, inclusive meus amigos próximos. E foi aí que eu percebi uma coisa muito curiosa, que eu não sei se acontece só comigo: a vontade de fumar tinha mais a ver com o hábito do que com o cheiro do cigarro em si. Na verdade, o cheiro do cigarro era quase insuportável: a fumaça dos cigarros ao meu redor penetravam em minhas narinas como ácido, queimando, ardendo, me fazendo prender a respiração.


Como é possível que algo assim te prenda por tanto tempo sem que você perceba o quanto é incômodo? Eu fumei por mais de cinco anos, e em apenas dois dias de abstinência eu pude perceber o quanto nosso corpo abomina aquele cheiro, aquela química, aquela substância tóxica. E, mesmo assim, havia aquela coceirinha na garganta que só quem já parou de fumar sabe como é: parece que você vai morrer sufocado se não der um trago. É até uma espécie de falta de ar, por mais contraditória que essa frase soe: pela primeira vez em cinco anos, tudo que eu estava mandando para dentro dos meus pulmões eram ar e poluição involuntária.

De qualquer forma, eu fui forte. Olhei ao meu redor, vi todas aquelas pessoas fumando e, por mais que minha mente viciada tentasse me enganar dizendo "só um traguinho não vai fazer diferença", eu me forcei a pensar que aquela não era mais a minha vida; que eu não fazia mais parte daquele grupo de pessoas que não conseguia fazer nada sem fumar um cigarro durante o processo; que eu não era mais alguém que precisava se preocupar em arranjar um chiclete imediatamente após fumar.

Encontrar meus amigos, abraçá-los sem medo de estar fedendo, conversar com as pessoas de perto, poder comprar o que eu quisesse para comer sem ter que me preocupar em guardar quase metade do dinheiro que eu tinha na carteira para comprar cigarro, tudo isso me ajudou a tolerar a abstinência como um mal necessário que vai passar.

Hoje, três dias depois do meu último cigarro, eu acordei com uma tranquilidade que não sentia há muito tempo. Não senti vontade de fumar e meu primeiro e único Nicorette do dia até agora foi só para garantir. Juntei os trocados que sobraram da festa de ontem, enfiados nos bolsos da minha bermuda, e constatei que tenho vinte reais para gastar com coisas que eu realmente preciso e que vão fazer bem para mim.

Olhando para trás, sei que esse dinheiro não estaria na minha carteira agora. Sei que teria sido parcial ou totalmente gasto com maços de veneno. Em vez disso, ele está ali, guardadinho, para quando eu precisar almoçar na faculdade, ou para quando eu estiver de bobeira em casa e decidir que um sorvete cairia bem, ou então para continuar guardado até que eu decida o que fazer com ele por vontade própria. E não há nada que tempere mais a vida ou seus eventos sociais do que poder controlar suas vontades e usufruir de cada segundo da maneira que você tem direito: em liberdade.

0 comentários:

Postar um comentário